Ilusão ou oportunidade? O lado obscuro por trás do visto EB-2 NIW para brasileiros

Alexey Orlov By Alexey Orlov

O processo de imigração para os Estados Unidos sempre exerceu um forte apelo entre brasileiros, especialmente entre aqueles com formação acadêmica sólida e carreiras bem-sucedidas. Nos últimos anos, uma das opções mais procuradas tem sido o visto EB-2 NIW, por dispensar a necessidade de uma oferta de emprego e permitir que o profissional pleiteie o green card com base no interesse nacional. No entanto, por trás da promessa de um caminho mais “rápido e justo”, muitos brasileiros têm enfrentado decepções profundas. O que parecia uma oportunidade de ouro, frequentemente se transforma em um pesadelo burocrático e financeiro.

A realidade do visto EB-2 NIW é muito diferente da propaganda que circula entre os escritórios de advocacia e agências de imigração. Apesar de o candidato apresentar currículo sólido, reconhecimento profissional e comprovação de impacto em sua área de atuação, a aprovação não depende exclusivamente desses méritos. A avaliação do processo é feita por oficiais administrativos do USCIS que, muitas vezes, não possuem qualquer formação técnica específica para julgar com profundidade a complexidade dos dossiês apresentados. Isso abre margem para decisões que, na prática, parecem arbitrárias.

Casos de negação inexplicável têm se tornado cada vez mais comuns, e o mais alarmante é a forma como esses pareceres são emitidos. Muitos candidatos relatam erros grosseiros nos documentos de resposta, como confusão de gênero, citações de outras petições e uso de argumentos genéricos que não se aplicam à sua trajetória. Essas falhas indicam que o processo, além de falho, pode ser tratado com negligência por parte dos avaliadores, o que compromete diretamente a integridade e a justiça do sistema. E tudo isso ocorre mesmo quando os profissionais contratam advogados experientes e investem altos valores na preparação de seus casos.

A atuação de advogados também tem sido motivo de preocupação. Muitos profissionais do setor de imigração, cientes das dificuldades reais no processo do visto EB-2 NIW, optam por omitir essas informações dos seus clientes. Em vez de alertar sobre os riscos envolvidos e a possibilidade real de uma negativa arbitrária, preferem reforçar o otimismo, garantindo que o candidato “tem tudo para ser aprovado”. Essa conduta, que em muitos casos beira a má-fé, serve apenas para viabilizar a assinatura de contratos que chegam facilmente a dezenas de milhares de dólares.

O problema não está somente nos valores cobrados, mas no impacto emocional e psicológico causado quando o processo é rejeitado. Muitos brasileiros enfrentam um abalo profundo, pois além do prejuízo financeiro, veem anos de carreira internacional e planejamento familiar desmoronarem diante de uma negativa infundada. A frustração se intensifica quando percebem que não há mecanismo de recurso verdadeiramente eficaz, já que a decisão do oficial do USCIS é praticamente final, salvo raras exceções de revisões administrativas.

As redes sociais e fóruns especializados estão repletos de depoimentos de brasileiros que passaram por essa experiência traumática. Relatos comoventes revelam uma constante: o sentimento de impotência. Muitos descrevem que, mesmo com cartas de recomendação, publicações acadêmicas, prêmios e atuação em áreas estratégicas, foram ignorados por uma análise superficial e desconectada da realidade de seus casos. Alguns, inclusive, desistem do sonho americano após o choque de uma ou mais negativas seguidas.

Diante desse cenário, é urgente que os interessados no processo busquem informações com profundidade e senso crítico. O glamour em torno do visto EB-2 NIW precisa ser equilibrado com a consciência dos riscos e das inconsistências do sistema. É essencial desconfiar de promessas fáceis e buscar sempre uma segunda opinião antes de fechar contratos com valores tão expressivos. Transparência e responsabilidade devem ser palavras de ordem nesse tipo de decisão.

O visto EB-2 NIW não é, necessariamente, uma fraude ou uma ilusão, mas certamente está longe de ser uma garantia. O problema maior está na forma como ele tem sido vendido e nos bastidores pouco discutidos do seu julgamento. Enquanto não houver reformas no sistema e fiscalização sobre a atuação de profissionais da área, brasileiros continuarão caindo nas mesmas armadilhas, repetindo histórias de frustração que poderiam ter sido evitadas com informação clara e honesta desde o início do processo.

Autor : Alexey Orlov

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